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domingo, 15 de janeiro de 2012

Chove lá fora

"A mesma chuva que inspira poesia, pode causar destruição quando vem com muita fúria"


É de manhã. Madrugada ainda.  O quarto está escuro como breu. Acendo a luz e confiro as horas no relógio que marca 5h e 15 min. O silêncio é quase total. Apenas o tic tac do relógio .
Espere... Lá fora a chuva continua. Há uns três dias que chove por aqui. Uma chuva mansa e calma. Chuva que embala.
Depois de uma estiagem prolongada a chuva chega para alegria de muitos e preocupação de outros. Os noticiários nos têm colocado a par da destruição que as fortes chuvas têm ocasionado em alguns estados. A mesma chuva que embala e remete a poesia, também pode causar destruição.
 Nesta região, agricultores e pecuaristas já contabilizavam os prejuízos causados pelo extenso período de seca. Então, esta chuva mansa e persistente veio amenizar o problema.
Vou até a janela e me deparo com uma manhã enevoada e fresca, quase fria, apesar de já  estarmos às voltas com o forte calor de verão. . Um vento gélido me bate no rosto, revigora meus pulmões.
Envolta num roupão dirijo-me até a cozinha. Preparo um café e sento-me diante da xícara fumegante.
O silêncio e a paz daquele momento convidam à meditação. É bom estar ali saboreando aquela paz, ouvindo o som abafado dos pingos batendo na calçada, vendo-os escorrerem pela vidraça.
Ligo a TV á minha frente. O noticiário da manhã coincidentemente me mostra lugares devastados pelas fortes chuvas. Enchentes... Deslizamentos... Destroços... Móveis arrastados... Casas destruídas... Pessoas em pânico... Animais também em pânico... Vidas bruscamente interrompidas.
De repente eu não me encontro mais ali no aconchego de minha cozinha. O apelo é tão forte que me transporto para lá. Eu observo tudo atônita. É preciso ajudar, ser solidária. Mas eu apenas observo...
A dor de cada um é única e intransferível. Palavras de conforto amenizam a dor, acolhem, mas não devolvem vidas. O que se perdeu está perdido. Era preciso que a tragédia fosse evitada. Houvesse ações preventivas.
O próprio noticiário me traz de volta à realidade ao mudar o foco das notícias.
Estou novamente ali no meu recanto, sentada, protegida.  À minha frente está a xícara de café ainda intacta. Já não está mais fumegante.
Ainda enrolada no roupão, chinelos confortáveis e aconchegantes nos pés, eu volto para meu leito ainda quente.
Enquanto isso, em algum lugar o desespero continua. Até quando as autoridades ficarão surdas ao apelo dos menos favorecidos?


 

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