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sábado, 21 de janeiro de 2012

O X da questão

Tive conhecimento desta crônica de Mário Lago e quis compartilhar.
.Mário Lago foi grande ator e compositor brasileiro. Faleceu aos 90 anos, em 2002, deixando uma rica contribuição artística e literária para nosso povo.

Este texto de grande inteligência além de ser hilário, mostra a complexidade de nossa língua portuguesa.
 Eu achei o ecstraordinário ...ou seria estraordinário( extraordinário) ? E você?

 

 No quadro-negro estava escrito que as palavras com acentuação tônica na última sílaba são oxítonas e Nino quis saber como se pronunciava aquele x. 
— Como se fosse cs.
O ano letivo estava no fim e Nino perguntou quando seriam os ecsames.
— Não é ecsames, Nino.
— A tia disse que x se diz cs.
— Na palavra oxítona. Em exame soa como z.
 Nino tinha 15 anos e ainda no 1° grau. Seu pai prometeu férias na Disneylândia se passasse. Inútil. Reprovado.
— Tia, dei vezame.
— Não é vezame.
— A tia falou: x vale z.
— Em exame. Em vexame é como se o x fosse ch.
 O menino descendia de italianos, sua aprovação envolvia honra pátria. Três explicadores. Nota 9 na recuperação.
— Muito bem, Nino.
— Tia, eu sou o máchimo.
— Não é máchimo, menino.
— X não é igual a ch?
— Em vexame. Em máximo, o x soa como c. Mas você passou. Ótimo.
— Eram tectos fáceis.
— Na palavra textos, o x se pronuncia como s.
 As primeiras vítimas da fúria de Nino foram Ximena, a professora, seu irmão Alexandre e o Xavier da farmácia. No Manicômio Judiciário, onde está há 20 anos, já matou Xisto, enfermeiro-chefe, e um chinês, porque acha que a palavra se escreve com X.


Crônica extraída do livro 16 Linhas Cravadas, de Mário Lago (1911-2002), Editora Publisher Brasil, 1998

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