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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

As mãos de minha mãe


Ontem me sentei para aparar as unhas de minha mãe. Uma tarefa que venho fazendo sempre, embora ela insista que não precisa. Ela mesma as cortará, costuma dizer.
E quando pego em suas mãos viajo numa infinidade de pensamentos diante daquela pele enrugada e de dedos nodosos e calejados.
As mãos de minha mãe me colocam diante de uma realidade da qual é impossível fugir.
E ali, enquanto aparo as suas unhas eu penso nas horas incontáveis de trabalho que já suportaram.
Mãos que acariciaram, acalentaram e até se rebelaram Mas que muito cedo conheceram a dureza e aspereza dos trabalhos.
Mãos que já lavaram, passaram , cozinharam interminavelmente sem descanso e sem reclamar.
Mãos que aos 80 anos ainda lhe permitiram aperfeiçoar-se na escrita. E que ainda hoje lhe ajudam na compreensão de pequenos textos.

imagem googleMãos que não tiveram tempo para exercitar-se nas artes plásticas. Mas que não deixam de ser mãos de artista habilidosa. Porque na necessidade teve que descobrir sozinha seus dotes para costuras.
São mãos que já uniram retalhos com cuidado e maestria para me aquecer no frio do inverno.
Lembro-me quando criança, minha mãe com mãos hábeis e delicadas desmanchando peças velhas de roupa para obter o molde e em assim costurar outra peça. Tinha uma pequena máquina de costura manual. E dali, quantas peças surgiram para vestir os filhos seus!
Quando meu pai comprou para ela uma máquina de costura movida a pedal, foi uma alegria total. Uma grande conquista! Ninguem a segurava mais. E foi com ela também que tive minha iniciação em costura.
As mãos de minha mãe hoje fracas e quase esqueléticas, foram as ferramentas utilizadas para abraçar a vida, para acolher, abençoar e unir-se em oração.
Já foram mãos abençoadas no plantar e no cozinhar. Sempre manteve no quintal um pequeno canteiro de verduras e ervas aromáticas.E a erva daninha, ela mesma arrancava, com as próprias mãos ou com uma enxada se precisasse.
Mãos que já lhe foram muito úteis no vestir e no banhar-se. Na sua higiene pessoal e no alimentar-se.
Mas suas mãos hoje já cansadas e lentas, não funcionam como dantes. Mas ainda conseguem ampará-la no lento caminhar apoiada em sua bengala.
As mãos de minha mãe me contam tanta coisa! Além de trabalho, falam-me inclusive de amor, paciência e resignação. Mãos que me colocam diante de minha própria fragilidade e fazem refletir sobre a efêmeridade da vida.
Mãos de minha mãe, mulher íntegra e vitoriosa! 
Olhando para suas mãos, eu me vejo amanhã...



7 comentários:

  1. Lindo e tão doce esse texto ,cheio de carinho transbordando!!Tanto podemos ver nas mãos de nossas mães... Adorei! beijos,chica

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  2. Olá, tudo bem? Fico feliz ao ler seu comentário no meu blog!!!! Realmente Salve Jorge está mais para Dorme Jorge... Rs... Bjs, Fabio www.fabiotv.zip.net

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  3. Edite, esse é um dos textos mais lindos que você já escreveu!!!

    Mãos lindas, pois são mãos que amaram e educaram seus filhos.

    Mãos sábias, mãos experientes.

    Mãos que deixaram sua marca no bondoso coração de seus filhos e, certamente, das pessoas que por ela foram tocadas.

    Mãos que doaram carinho tão bem que até hoje faz com que as pessoas que amaram, amam e respeitam essas mãos, estejam sempre à sua volta, cuidando para que essas mãos não mais se cansem.

    Mãos que levaram outras mãos a escreverem tão bela crônica!!!

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  4. Ana, vc me comoveu com seu comentário. Palavras tão gentis , compreensivas que só alguem que muito ama é capaz de proferir. Lindas palavras que completaram com maestria meu texto. Vc me sensibiliza. Abcs.

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