Powered By Blogger

terça-feira, 22 de maio de 2018

TEMPO QUE FOGE





Este é um texto  que continua atualíssimo , de Ricardo Gondim, segundo ele mesmo esclareceu , muito embora ele apareça na Net com várias atribuiçoes de autoria . 

Ao aproximar-me dos meus 70 anos , veio-me à lembrança esse texto que tenho guardado em meus arquivos há muitos anos . Quando tomei conhecimento dele pela primeira vez , talvez eu não tivesse tanta urgência de viver como hoje . Mas as "jabuticabas" estão acabando e mesmo que não se queira há  uma certa urgência em viver .Ter mais passado do que futuro às vezes assusta embora não deprima , mas gera ansiedade . Parece que temos tanto ainda a viver , a conquistar , a participar , mas o tempo continua escorrendo pelos vãos dos dedos como a areia da ampulheta .

É tempo de filtrar nossas ações e interações sociais para que o tempo escasso possa render e nos proporcionar qualidade de vida, apesar do avanço cronológico.



Tempo que foge!

Ricardo Gondim


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.


*************************         ***********************       *********************
Explicando sobre a autoria do texto

O “Valioso tempo dos maduros” ou “Tempo que fogeé um daqueles textos extraordinários que fazem sucesso na rede sendo atribuído a diversos autores. Neste caso há várias atribuições a Mario de Andrade. Contudo, o escritor Ricardo Gondim, em seu site, publicou uma nota esclarecendo: 

Escrevi “O Tempo que Foge”. Alguém o fez circular como de um Autor Anônimo. Depois, disseram que era de Mário de Andrade. Agora, por último, me acusam de tê-lo roubado de Rubem Alves. Insisto, o texto é meu. Eu o escrevi no meu computador, na privacidade de meu ambiente de trabalho e está publicado no meu livro Creio, mas tenho Dúvidas’, Editora Ultimato.
 Ricardo Gondim



5 comentários:

  1. Texto lindo e a autoria deve mesmo ser bem mostrada! beijos, lindo dia! chica

    ResponderExcluir
  2. Uma beleza de partilha e que bela verdade esconde!!!bj

    ResponderExcluir
  3. Uma beleza de partilha e que bela verdade esconde!!!bj

    ResponderExcluir
  4. Olá, tudo bem? Adorei essa frase O tempo foge e arrasta-nos consigo... Sintetiza o que eu penso. Bjs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  5. Maravilhoso texto
    A realidade está além do tempo
    O tempo é um recurso crítico, irreversível irrenovavel e insubstituível,por isso deve ser utilizado como um precioso bem que é!!

    ResponderExcluir