Certo dia
, numa manhã chuvosa e fria , eu voltando da Academia resolvi fazer uma parada na igreja Matriz para alguns minutos diante do Santíssimo
Era
quinta-feira, dia em que o Santíssimo fica exposto durante o dia todo. Naquele dia chuvoso, se passasse direto , provavelmente eu não voltaria . Ficaria em casa curtindo aquele dia chuvoso de forma bem descontraída e aconchegante.
Atravessei então a praça rapidamente sem prestar muita atenção. Apressada
como estava e embaixo da chuva só pensava em chegar logo à Igreja , onde iria
durante alguns minutos permanecer em
adoração diante do Santíssimo.
Depois de
dar alguns passos, quase já na porta da Igreja , “senti “ que parece que algo
se movera enquanto eu passava .
Voltei-me para trás e então vi um senhor
que estava deitado sobre a calçada embaixo do monumento da Santa Ceia.
Assim que notou meu interesse por sua pessoa, o andante se
levantou como se a querer dizer algo.
De imediato eu me
voltei novamente e entrei logo na Igreja.
Mas meu coração indagava :
“ Que fazia aquele homem apenas com uma mochila nas costas e um cobertor à mão
àquela hora da manhã fria e chuvosa , como se estivesse sem rumo ?
Meu coração me dizia que precisava saber o que
estava acontecendo. Precisava ouvi-lo, precisava ajudá-lo, pois ele parecia meio perdido.
Ajoelhada então diante do Santíssimo pedi em
oração: "Jesus , mostra-me como! Preciso ajudar
aquele homem, mas de que maneira? Fala-me, Senhor Jesus !"
Fiquei
ali ajoelhada apenas alguns minutos falando com Deus e saí decidida: iria abordar aquele homem e ver como poderia ajudá-lo.
Mas ao
chegar à praça, fiquei um pouco decepcionada. O homem havia ido embora. Bem,
talvez aquele não fosse o momento. O Senhor por certo não desejava minha
intervenção. Ou ,minhas preces não tinham sido ouvidas. Não conseguira passar a
mensagem a Deus. Minha prece havia caído no vazio...
Resolvi
que seguiria meu caminho . Mas , quando me volto para mais uma vez lançar um olhar pela praça vazia , eis que o vejo
surgir quase já bem próximo . . E vinha em minha direção.
Chamei-o e
juntos fomos para a entrada da
Igreja , onde podíamos ficar protegidos da chuva
Ficamos ali conversando durante alguns minutos que me
permitiram conhecer uma parte da sua história . Seu destino era São Paulo .Iria
em busca das filhas que lá moram . Havia sido assaltado na rodoviária de
Sertanópolis. Estava apenas com os documentos , os quais me mostrou . O que me
fez colocar mais crédito em sua história . Disse-me até o nome das filhas , onde moravam e chorou
quando mencionou as netas gêmeas Tainá e Tainara .
Havia
chegado na noite anterior e uma alma boa lhe dera um prato de comida , um
cobertor e a camisa que vestia . A cama foi o banco da rodoviária da cidade.
Estava na praça desde bem cedinho e já tinha até entrado na igreja e
participado da missa das seis horas de
toda quinta-feira.
Verdade ? Não sei ! Tinha fundamento o que ele dizia, então preferi acreditar.
Mas ele
precisava de uma passagem de ônibus que o levaria até Marília , onde iria
procurar um abrigo . No abrigo, disse ele, vou estar em segurança e protegido .
E eles me encaminharão ao meu destino.
Eu não tinha
dinheiro ali comigo naquele momento , mas arranjei uma solução .
Era preciso
ajudá-lo a chegar pelo menos até o abrigo .
Liguei para minha casa e pedi que minha funcionária viesse me encontrar. A igreja fica apenas a três quadras de minha casa, mas por segurança preferi que a ajuda viesse até mim .
Não achei recomendável conduzir a pessoa até minha casa . Apesar de tudo que conversamos , a credibilidade que botei na sua história cautela nunca é demais .
Ao receber a ajuda que lhe permitia comprar sua passagem e alguns trocados para um lanche , ele ficou muito agradecido e a passos rápidos se dirigiu para a rodoviária .