Estacionei o carro na frente da clínica médica onde tinha uma consulta marcada para as 10 horas da manhã . O estacionamento privado estava lotado , então deduzi que a sala de espera deveria estar cheia. A época de pandemia pede “evitar aglomerações”. Então preferi esperar no carro .
Ficamos ali ao sol da manhã que àquela hora ainda estava numa temperatura agradável para uma manhã de outono .
De onde estávamos observávamos o vai e vem de uma pequena e frágil senhorinha a varrer a calçada da frente da casa .
O tempo foi passando , o sol ficou insuportável e então decidi estacionar em uma vaga da garagem que havia pouco desocupara .
A senhorinha entrara e voltara carregando uma mangueira , sinal de que pretendia lavar a calçada . O movimento na rua continuava e minha consulta já estava atrasada quase uma hora .
Dei a volta no quarteirão e estacionei do outro lado , na vaga do estacionamento.
Dali também conseguíamos observar o movimento da rua e também o vai e vem da senhorinha empenhada no seu trabalho .
Um instante sequer que desviei o olhar , minha colega do meu lado falou : "Dona Edite, a senhorinha caiu" .
Corremos até lá . Ela estava caída de bruços e com um pequeno ferimento na testa , toda suja e molhada . Foi difícil erguê-la e conseguir que desse alguns passos para que se sentasse.
Carros e motos continuavam passando . Mas ninguém parou . Fez-me lembrar a parábola do “bom samaritano”. ( Lc 10, 25-37)
Todos tinham pressa e não podiam “perder” um pouco de seu tempo para ajudar .
A secretária da Dra.X, por mim informada , deixou seu posto e imediatamente atravessou a rua e foi até lá prestar ajuda.
Com a sua presteza conseguimos encontrar um número de telefone adentrando a casa e então foi feito um telefonema para a neta que também estava no trabalho .
Avisada , uma das filhas veio até a casa da mãe que mora sozinha . Se tivesse caído dentro da casa , correria o risco de ficar ali no chão até que alguém aparecesse , pois estava muito frágil e dificilmente se levantaria sozinha .
Aquele acontecido chamou-me a atenção colocando-me diante da fragilidade da vida . Testemunhar a fragilidade do ser humano em estado de definhamento quase perto de sua finitude física é assustador. Remete-nos à reflexão e nos coloca em posição de questionamento diante do inevitável .
Envelhecer é natural e procuramos fazê-lo da melhor forma possível nos cuidando clínica e fisicamente da melhor forma possível . Detalhes mínimos e sérios como as enfermidades aparecem indicando que estamos mais frágeis e necessitando de cuidados especiais .
Mas às vezes é inevitável não se envolver com questões de moradia , vivendo sozinhos mesmo que não abandonados .
Os filhos cuidam . Mas não podem estar presentes 24 horas por dia . A possibilidade de ter um cuidador ou cuidadora passa por questões financeiras e nem sempre é possível .
Como levar uma mãe para o asilo ? Nem pensar …
Então, fico pensando naquela senhorinha tão frágil , precisando de companhia , de afeto , de alguém que fique mais tempo com ela , que faça uma refeição com ela , para que não se sinta tão só ...
A Parábola do Bom Samaritano é uma famosa parábola do Novo Testamento que aparece unicamente em Lucas 10:25-37. O ponto de vista majoritário indica que esta parábola foi contada por Jesus a fim de ilustrar que a compaixão deveria ser aplicada a todas as pessoas, e que o cumprimento do espírito da Lei é tão importante quanto o cumprimento da letra da Lei. Jesus coloca a definição de próximo num contexto mais amplo, além daquilo que as pessoas geralmente consideravam como tal.( wikipedia)
Bom dia de paz e saúde!
ResponderExcluirMuito pertinente na atualidade onde muitos estão sozinhos e sem ninguém para ter compaixão.
Gostei muito da história verídica, afinal.
O último parágrafo fechou com chave de ouro o texto.
Tenha um dia abençoado, querida amiga Edite!
Beijinhos carinhosos e fraternos
Que coisa,Edite! E quantas h´pa que nessa ou piores estão? Que bom pudeste ajudar .Tomara tenha boa sorte e algém por perto que a olhe...beijos, muito lindo teu post,da vida real! chica
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