Não conheço muito do escritor Rubem Alves . Mas o que tenho conhecimento é que era uma pessoa muito sensível e observador da vida . Como ele mesmo escreveu : "Tenho um caso de amor com a vida "
Sei também que ficou conhecido como "o homem que gostava de ipês amarelos". Assim respondeu uma criança ao ser interrogada na escola onde estudava textos do autor : "e quem é Rubem Alves ?"
O escritor gostava tanto dos ipês , e deixou esse amor tão explícito em seus textos que mereceu uma homenagem pós morte, feita por sua filha e amigos queridos , onde suas cinzas foram usadas para adubar uma muda de ipê amarelo ,em determinado lugar (não citado no texto),num gesto de celebração da vida .
Talvez seja muita pretensão minha dizer que tenho esta afinidade com o escritor . Apenas com a diferença de que os meus preferidos são ipês rosados.
Gosto de todos , mas o rosado me encanta . Talvez pela durabilidade da floração que é um pouquinho mais extensa que a floração amarela ou branca.
Para todo canto que se vai ou que se olha , nas cidades ou nos campos sempre há um rosado despontando altaneiro sobressaindo entre as folhagens secas , desafiando o céu azul e colorindo as ruas e/ou frentes de casas .
Não tem como não parar e ficar ali estonteado em contemplação e louvor pela beleza da criação .
O autor descreve tão bem a sensação diante da beleza dos ipês que eu nada mais tenho a dizer , a não ser deixar aqui trechos dessa maravilha de texto de Rubem Alves .
Gosto
dos ipês de forma especial. Questão de afinidade. Alegram-se em
fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é
normal — abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno
e o Verão está pra chegar, com seu calor e chuvas. O ipê faz amor
justo quando o inverno chega, e a sua copa florida é uma despudorada
e triunfante exaltação do cio.
Conheci
os ipês na minha infância, em Minas, os pastos queimados pela
geada, a poeira subindo das estradas secas e, no meio dos campos, os
ipês solitários, colorindo o Inverno de alegria. O tempo era
diferente, moroso como as vacas que voltam em fim de tarde. As coisas
andavam ao ritmo da própria vida, nos seus giros naturais. Mas
agora, de repente, esta árvore de outros espaços irrompe no meio do
asfalto, interrompe o tempo urbano de semáforos, buzinas e
ultrapassagens, e eu tenho de parar ante esta aparição do outro
mundo. Como aconteceu com Moisés, que pastoreava os rebanhos do
sogro, e viu um arbusto pegando fogo, sem se consumir.
Ao
se aproximar para ver melhor, ouviu uma voz que dizia: “Tira as
sandálias dos teus pés, pois a terra em que pisas é santa”. Acho
que não foi sarça ardente. Deve ter sido um ipê florido. De fato,
algo arde, sem queimar, não na árvore, mas na alma. E concluo que o
escritor sagrado estava certo. Também eu acho sacrilégio chegar
perto e pisar as milhares de flores caídas, tão lindas,
agonizantes, tendo já cumprido sua vocação de amor.
Mas
sei que o espaço urbano pensa diferente. O que é milagre para
alguns é canseira para a vassoura de outros. Melhor o cimento limpo
que a copa colorida. Lembro-me de um pé de ipê, indefeso, com sua
casca cortada a toda volta. Meses depois, estava morto, seco. Mas não
importa. O ritual de amor no Inverno espalhará sementes pela terra e
a vida triunfará sobre a morte, o verde arrebentará o asfalto.
A
despeito de toda a nossa loucura, os ipês continuam fiéis à sua
vocação de beleza, e nos esperarão tranquilos. Ainda haverá de
vir um tempo em que os homens e a natureza conviverão em harmonia.
Penso
que os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se
pudéssemos nos abrir para o amor no Inverno...
Corra o risco de ser considerado louco: vá visitar os ipês. E diga-lhes que eles tornam o seu mundo mais belo. Eles nem o ouvirão e não responderão. Estão muito ocupados com o tempo de amar, que é tão curto. Quem sabe acontecerá com você o que aconteceu com Moisés, e sentirá que ali resplandece a glória divina
Leia o texto todo aqui:
Campinas
4/5/2014
Rubem
Alves
imagens que colhi em Marília hoje , sábado a galhardia do ipê rosado ultrapassando a torre da Igreja |
ipês rosados tornam a paisagem simples mais bela e atraente . |
Ipês rosados circundam a pequena habitação de telhado baixo ,mostrando toda sua majestade
Bom dia, querida amiga Edite!
ResponderExcluirTambém amo contemplar ipês nas estradas.
Obrigada pela partilha generosa deste poeta de coração sensível.
Amo os rosados... vi-os em abundância em Campo Grande, MGS.
Tenha dias felizes e abençoados!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem
Essa afinidade é recíproca minha amiga pois contemplar uma bela florada nos encanta o olhar.
ResponderExcluirNa minha casa um pé de ipê amarelo mas na verdade gosto mais do rosa
Beijos e uma feliz semana
Gosto de ipês de todas as cores, mas prefiro os rosados, tal como você, Edite.
ResponderExcluirLi e "absorvi" os textos de Rubem Alves, escritor k mto admiro. Gosto de loucuras, desse género.
As fotos estão um encanto. Obrigada por tão completo post!
Beijinhos, querida e nova amiga!
Boa noite Edite!
ResponderExcluirUma postagem de encher os olhos.
Eu adoro ipês, esses rosados são perfeitos.
Sou muito fã dos escrito desse grande educador. Alguns anos atrás, eu tinha um blog no blogger Brasil globo por assinatura, onde publicava só os escritos do Rubem Alves. Tinha um material grande a respeito do autor. Perdi todo o material sem tempo de salvar, fechei minha assinatura e eles mandaram tudo para o saco de uma vez só. Eu poderia ter salvo, mas achei que teria tempo fazer o download antes do cancelamento da assinatura.
O link que você deixou não está abrindo pra mim. Esta dando erro Not Found.
Uma boa semana! Beijos!
Ler Rubem é uma das coisas mais bonita Edite e aqui como uma homenagem rosamos o amarelo que tanto o encantou.
ResponderExcluirLinda postagem amiga e as fotos estão exuberantes.
Eles anunciam a Primavera numa especie de gravidez primaveril.
Gostei.
Abraços rosado/amarelo.