a arte de bordar se mistura com a arte de viver |
Há algum
tempo atrás escrevi um texto que iniciava assim: “Sempre
admirei a arte do bordado. Minha habilidade nesta arte não é das
mais apuradas, mas o suficiente para me perder na magia que envolve
todo seu significado”
http://el.balbo.zip.net/arch2011-07-10_2011-07-16.html
(blog já desativado)
Bem, mas
o que eu quero dizer é como e porquê este texto me veio à mente
ontem após uma visita a uma amiga idosa já com seus 90 anos
completos.
Não é
de praxe visitá-la. Mas sempre que nos encontrávamos a alegria e
receptividade era recíproca. E eu já estava a me indagar o que
estaria acontecendo para que ela saísse de circulação por tanto
tempo.
Vózinha
passa pelo processo normal da limitação pela idade, este agravado
nos últimos tempos. Seus passos já estão mais lentos e não
obedecem totalmente a seus comandos. O pouco caminhar é para ela um
esforço acima de suas forças.
Mas seu
sorriso, sua alegria e otimismo e sua mente ainda lúcida não tem
limites.
Olhar
embaçado? Nem pensar...esse passa longe. O olhar da vózinha revela
alegria de viver e tem um “brilho especial”.
Passa os
dias envolvida com seus bordados , os quais faz faz com muito carinho
e dedicação.
O
entusiasmo com que mostrou-me algumas peças tão perfeitas, dignas
da melhor confecção revelaram -me uma exímia e caprichosa
bordadeira. Pontos minuciosos, executados com paciência e muito
cuidado para não se desviar do complicado gráfico tracejado. Os bordados da vovó são verdadeiras preciosidades.
Ao
falar-me da família, mostrar-me orgulhosa a foto dos netos, contar
da surpresa no último aniversário, foi então que me veio a
analogia:
“Enquanto
borda o tecido, vózinha também borda a vida” O
mesmo carinho, o mesmo cuidado no ponto a ponto, vózinha tem também
com as relações afetivas familiares.
Bordado
perfeito? Sim! Mas quantas vezes ela não teve que parar, observar o
gráfico, desembaraçar nós pacientemente, e até ver marcas
deixadas pelo constante desmanchar. Assim como as dificuldades na
vida deixam marcas. Mas o importante é recomeçar sempre. Rever o
caminho .
Pode-se
dizer que a arte de bordar imita a arte de viver. “Bordar
o tecido é bordar dentro de nós”, diz Fábio de
Melo em seu livro “Mulheres de aço e de ferro”.
“No entrelaçamento dos fios e linhas os entrelaçamentos próprios
da vida cotidiana”
Enquanto
borda ela afugenta a solidão, trabalha seus medos, sua ansiedades , supera dificuldades.
E assim,
segue ponto a ponto. Como na vida. Passo a passo. Desfazendo nós,
retornando no caminho. Desfazendo erros.
Marcas
podem ficar. Mas o importante é o valor que se dá a cada ponto. Ou
a cada passo.Sempre procurando caminhar com equilíbrio e bom senso.
E assim,
em cada ponto dado, em cada emaranhado de linhas, ora seguindo
adiante, ora desembaraçando nós, vózinha segue bordando a vida.
Bordando e delineando a própria história.
Edite eu acho o maior legal as suas comparações!!!
ResponderExcluirBordar é mais ou menos isso mesmo: brincar de destino, né não?
Eu não bordo, não tenho o dom de fazer agulha e linha desenharem belezas...
E quanto aprendemos com essas vózinhas. Gosto de conversar com elas. Acho de uma riqueza incrível!
ExcluirQue texto maravilhoso.. E quantas idéias tecidas e pintadas em cada pontinho dado?
ResponderExcluirLindo demais!! beijos,tudo de bom,chica e obrigado pelo carinho!chica