O texto abaixo foi publicado no ano passado. Hoje ele me veio à mente novamente. É que "vozinha" nesta última semana desfez o "último nó" que a prendia aqui na terra.
Em pé diante de seu esquife eu não pude deixar de lembrar desse nosso encontro em que ela me recebeu com uma alegria tão pura e verdadeira. Um largo sorriso no rosto já marcado pelo tempo.
Nunca me esqueço da maneira como entusiasmada mostrava-me os seus bordados e falava deles com tanto amor e cuidado.O mesmo cuidado que dispensava no trato às amizades e familiares. Seu mais rico bordado? os netos , os filhos ...os familiares em geral...aos quais sempre procurou "desembaraçar os nós" que porventura se faziam em seus caminhos.
Adeus, vozinha. Seu corpo já não mais pertence a este mundo. Mas ficaram boas lembranças, ensinamentos apenas dignos de um grande livro aberto: seu coração!
A lembrança de sua presença amiga estará sempre no meio de nós!
Homenagem póstuma
a
arte de bordar se mistura com a arte de viver
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Há
algum tempo atrás escrevi um texto que iniciava assim: “Sempre
admirei a arte do bordado. Minha habilidade nesta arte não é das
mais apuradas, mas o suficiente para me perder na magia que envolve
todo seu significado”
Bem, mas
o que eu quero dizer é como e porquê este texto me veio à mente
ontem após uma visita a uma amiga idosa já com seus 90 anos
completos.
Não é
de praxe visitá-la. Mas sempre que nos encontrávamos a alegria e
receptividade era recíproca. E eu já estava a me indagar o que
estaria acontecendo para que ela saísse de circulação por tanto
tempo.
Vózinha
passa pelo processo normal da limitação pela idade, este agravado
nos últimos tempos. Seus passos já estão mais lentos e não
obedecem totalmente a seus comandos. O pouco caminhar é para ela um
esforço acima de suas forças.
Mas seu
sorriso, sua alegria e otimismo e sua mente ainda lúcida não tem
limites.
Olhar
embaçado? Nem pensar...esse passa longe. O olhar da vózinha revela
alegria de viver e tem um “brilho especial”.
Passa os
dias envolvida com seus bordados , os quais faz faz com muito
carinho e dedicação.
O
entusiasmo com que mostrou-me algumas peças tão perfeitas, dignas
da melhor confecção revelaram -me uma exímia e caprichosa
bordadeira. Pontos minuciosos, executados com paciência e muito
cuidado para não se desviar do complicado gráfico tracejado. Os
bordados da vovó são verdadeiras preciosidades.
Ao
falar-me da família, mostrar-me orgulhosa a foto dos netos, contar
da surpresa no último aniversário, foi então que me veio a
analogia:
“Enquanto
borda o tecido, vózinha também borda a vida” O
mesmo carinho, o mesmo cuidado no ponto a ponto, vózinha tem também
com as relações afetivas familiares.
Bordado
perfeito? Sim! Mas quantas vezes ela não teve que parar, observar o
gráfico, desembaraçar nós pacientemente, e até ver marcas
deixadas pelo constante desmanchar. Assim como as dificuldades na
vida deixam marcas. Mas o importante é recomeçar sempre. Rever o
caminho .
Pode-se
dizer que a arte de bordar imita a arte de viver. “Bordar
o tecido é bordar dentro de nós”, diz Fábio de
Melo em seu livro “Mulheres de aço e de ferro”.
“No entrelaçamento dos fios e
linhas os entrelaçamentos próprios da vida cotidiana”
Enquanto
borda ela afugenta a solidão, trabalha seus medos, sua ansiedades ,
supera dificuldades.
E assim,
segue ponto a ponto. Como na vida. Passo a passo. Desfazendo nós,
retornando no caminho. Desfazendo erros.
Marcas
podem ficar. Mas o importante é o valor que se dá a cada ponto. Ou
a cada passo.Sempre procurando caminhar com equilíbrio e bom senso.
E assim,
em cada ponto dado, em cada emaranhado de linhas, ora seguindo
adiante, ora desembaraçando nós, vózinha segue bordando a vida.
Bordando e delineando a própria história.
Que lindo texto e homenagem. A vozinha foi trabalhar com linhas em outra dimensão. beijos,chica
ResponderExcluirQue beleza Chica! O céu todo enfeitado com ricos e belos bordados
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Esse tema daria um romance... e dos bons!
ResponderExcluirMe fez lembrar minha avó fazendo crochê, toda noite, enqto ouvia a novela e tb o noticiário, pelo rádio. Ao lado, estava eu e uma prima aprendendo nossos primeiros pontos de bordado, ensinados por uma tia... o ponto atrás e depois o ponto correntinha... infelizmente minha família se apartou dos meus parentes e meu bordado nunca vingou. -- Edite, como está sua mãe? Que idade ela tem?
Paz
AhPaz, a vozinha deixou uma saudade boa.dessas saudades que nos alimentam pelo aprendizado deixado em vida.sobre minha mãe, dentro de sua limitação posso dizer que aos 96 anos está bem forte. Alguns dias um pouco confusa, mas bem disposta. Abcs
ExcluirOlá, tudo bem? Praticar atividade f´sica no inverno não rola kkkkkk... Gostei da receita da "SOPA CREME DE MANDIOCA".. Hummmm.. Bjs, Fabio www.fabiotv.zip.net
ResponderExcluirOlá Fábio. Menino, vc tão jovem ainda e já pendurando as chuteiras? Mas temaquele digado que diz:"a necessidade faz o monge".Uma hora vc vai sentir essa necessidade e não vai poder correr. Vc verá.
ExcluirAh , e experimente a sopa creme demandioca. Você vai adorar.
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