... como uma vela que se apaga
Eu
fico observando minha mãe. A cada dia mais frágil. Os passos lentos
e cansados já não suportam nem a bengala. É preciso um andador
para que se sinta melhor equilibrada, mais confiante em cada passo
que dá..
clact,
clact, clact … lá vai ela pelo quintal apoiando -se no andador, se
arrastando pelo quintal para tomar o seu banho de sol.
É
triste ver minha mãe assim sumindo a cada dia., consumida pela
própria existência. Como um pavio que tremula ao vento., um pavio
prestes a apagar-se, mas que valentemente resiste às investidas do
tempo.
Olho
para aquele corpo já sem forma , mas que um dia já teve sua beleza
As
pernas que também já foram ágeis e fizeram longas caminhadas....
Olho
para aqueles braços magros onde a cada dia sua musculatura se
retrai. Olho para suas mãos tão carcomidas, veias aparentes e
imagino quando e onde foi que elas perderam a destreza, perderam a
beleza.
Mas
não perderam o dom de servir.
Difícil
ver minha mãe irritada, ranzinza. Ela sempre tem um sorriso no olhar
, sabe ser gentil e hospitaleira. Suas mãos ainda que lentas sabe
apontar uma cadeira para que eu me sente ou me comanda até a mesa
para tomar um cafezinho. O mesmo faz com qualquer pessoa que chega à
casa..
Gosta
de servir, ser gentil. Uma qualidade dos mais velhos . Principalmente
de pessoas como minha mãe que viveram numa época onde gentileza e
hospitalidade eram qualidades comuns às pessoas. Onde a vizinhança
se visitava, faziam préstimos um ao outro. . Conviviam todos como
uma grande família.
Diferente
dos dias de hoje em que muitos aboliram de seu vocabulário palavras
de gentileza. Diferente dos dias de hoje onde cada um se dá o
direito de ficar recluso em casa, muitas vezes ignorando dificuldades
com o vizinho do lado.
É
a evolução dos tempos . Com a ressalva de que as pessoas mais
antigas não acompanharam essa evolução.
Observando
minha mãe eu percebo que a cada dia mais amplia suas “decolagens”.
Não se situa e está sempre querendo “voltar para casa”. Esquece
que moro bem ali do seu lado e sempre pergunta “quando foi que
cheguei”.
Não
tem como não se enternecer diante disso tudo. Não tem como não
pensar que um dia ela já foi como eu... e que um dia posso eu estar
como ela...
É
triste, mas é a realidade da vida.
O
que nos prepara o futuro?
"Convivendo com minha mãe eu me deparo com minha própria fragilidade e reflito sobre a efemeridade da vida." ( edite)
" A convivência com idosos é nos dá a verdadeira dimensão do que é envelhecer" ( edite)
Poderá gostar de;
" A convivência com idosos é nos dá a verdadeira dimensão do que é envelhecer" ( edite)
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Também convivo com esses cenas de fragilidade diante da vida com minha mãe! Tão triste! beijos,chica
ResponderExcluirQue bom q vc me compreende...
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